Durante muitos anos, a disfunção sexual feminina foi negligenciada pela medicina, profissionais de saúde e pelas próprias mulheres. Assim como no sexo masculino, as disfunções sexuais na mulher são mais comuns do que imaginamos. Estima-se que quase 40% da população feminina apresente alguma queixa sexual.
Uma das queixas mais prevalentes é a perda de libido, que se excluído doenças clínicas ou problemas psicológicos que interfiram na libido, o distúrbio é conhecido como Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo, caracterizado por ausência ou diminuição de interesse ou desejo, pensamentos ou fantasias e ausência de desejo responsivo. No sexo feminino, muitos são os fatores que interferem na libido: fadiga, estresse, gestação, humor, bem-estar físico, dinâmica familiar como o nascimento de um filho, medicações, doenças pré existentes, problemas psicológicos e de relacionamento com o parceiro. Portanto são condições biológicas, psicológicas, sociais e contextuais que regem a libido na mulher. Assim, o tratamento das disfunções sexuais femininas é multifatorial e além de medicações muitas vezes é necessário terapia cognitivo-comportamental, terapia sexual ou psicoterapia.
Biologicamente, muitos hormônios e neurotransmissores estão envolvidos na excitação ou inibição da resposta sexual, como seratonina, dopamina, estrógenos, progesterona, testosterona, o sistema de melanocortina dentre outros. Dessa forma, o uso de medicações que atuam no sistema nervoso central modulando neurotransmissores são de uso potencial na prática clínica. A única medicação aprovada pelo FDA é a flibanserina, que atua como agonista do receptor de serotonina. Tal medicação não está disponível no Brasil. Todas as outras medicações para o tratamento da disfunção do desejo sexual hipoativo são consideradas off-label. Uma delas é a bupropiona, medicação muito usada como antidepressivo. Ela age inibindo a recaptação de dopamina e norepinefrina além de bloquear receptores da serotonina. A trazodona, que também é um antidepressivo que bloqueia receptores da serotonina, mostrou-se efetiva, segura e com poucos efeitos colaterais. Buspirona é outra medicação que atua nos receptores da serotonina e tem efeitos pró-sexuais, além de ser um ansiolítico.
Hormônios também podem ser usados no tratamento da libido nas mulheres. Quando associado à menopausa e houver indicação, a terapia de reposição hormonal com estrógenos pode ajudar a melhorar esse sintoma.O uso da testosterona é algo controverso na literatura e na prescrição de médicos endocrinologistas e ginecologistas. Também é considerada off-label para essa finalidade. Existem estudos que correlacionam desejo sexual e níveis de testosterona na mulher. A testosterona transdérmica mostrou eficácia na melhora de distúrbios de desejo sexual hipoativo, segundo revisão recente (Shifren & Davis, 2017), usada principalmente no contexto da menopausa. Não existem estudos de segurança do uso de testosterona a longo prazo em mulheres.
Dra. Vanessa Aoki Santarosa Costa
Médica Endocrinologista formada pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Mestrado pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Atua em consultório médico particular na Vila Mariana, Zona Sul, São Paulo.