A gordura no fígado, termo técnico esteatose hepática, é uma doença muitas vezes subestimada por não ocasionar sintomas. Ela é caracterizada por acúmulo de gorduras no fígado, e ao contrário do que muita gente imagina, não ocorre somente em obesos. Muitas outras causas além do fator excesso de peso podem estar envolvidas: o consumo exagerado de bebida alcoólica, diabetes, resistência insulínica, síndrome metabólica, uso de anabolizantes dentre outros.
Hoje a esteatose hepática é considerado o principal agravo de saúde no fígado, estima-se que próximo de 30% da população mundial apresente o problema, em obesos a prevalência sobe para 50% e em diabéticos quase 70% pode apresentar a condição.
Na maioria das vezes, como não ocasiona sintomas, a esteatose hepática é diagnosticada por acaso nos exames de check up ou incidentalmente nos exames de imagem como ultrassonografia, tomografia ou ressonância nuclear magnética de abdome total. Ela é classificada em leve, moderada ou grave, ou grau I, II ou III. No estágio mais avançado pode aparecer a esteatohepatite, que é uma inflamação do fígado mediada pelo acúmulo de gordura, e na sua evolução culminar com fibrose, que caracteriza a cirrose hepática. Por sua vez a cirrose leva à insuficiência hepática e à formação de nódulos com predisposição para o desenvolvimento de tumores malignos. Quando falamos de cirrose, logo vem a mente causas com bebida alcoólica e vírus da hepatite B ou C, no entanto, as estatísticas mostram que atualmente a principal causa de cirrose é a esteatose hepática, devido a alta prevalência da obesidade, diabetes, má alimentação, sedentarismo e outros problemas metabólicos.
O tratamento inicialmente baseia-se na prática de atividade física 150 a 200 minutos por semana para ajudar a mobilizar e a "queimar" essa gordura localizada, mudanças dietéticas evitando o alto consumo de gorduras, alimentos pré processados e bebida alcoólica, perda de peso na ordem de 5 a 10% do peso inicial levam a uma importante redução no teor de gordura no fígado. Algumas medicações também têm evidências de ajudar no processo, tais como: os sensibilizadores de insulina, como a metformina e a pioglitazona; antioxidantes, como a vitamina E; as medicações que baixam o colesterol como as estatinas e substâncias imunomoduladoras como o ácido ursodeoxicólico. Por ser uma condição potencialmente grave, é importante ter a avaliação médica para diagnosticar a fase do problema, orientar sobre prevenção, evitar a progressão e tratar as condições de saúde associadas.
Dra. Vanessa Aoki Santarosa Costa
Médica Endocrinologista formada pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Mestrado pela Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo
Atua em consultório médico particular na Vila Mariana, Zona Sul, São Paulo.